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O Estado de São Paulo - Caderno 2
Sexta-feira, 26 de novembro de 1999
Fim de Semana





Atores arriscam-se na dramaturgia. Autores estreantes interpretam seus textos em "Cabra", "Só in Cena" e "Paraíso".

Marcos Damigo, Bianca Ramoneda e Grace Gianoukas. Esse trio tem algo em comum. São atores jovens que interpretam nos palcos paulistanos seus textos, os três estreando na dramaturgia. A atriz Bianca Romaneda volta a apresentar no Teatro N.Ex.T o monólogo Só in Cena, texto vencedor do Prêmio Nestlé de Literatura em 1997. No mesmo teatro, a atriz Grace Gianoukas apresenta, a partir de segunda-feira, o monólogo Paraíso, também o primeiro de sua autoria.

Damigo é autor de Cabra - Épico de Canudos, um texto para dois atores, vencedor do Prêmio Nascente de Teatro, uma parceria USP/Editora Abril, em 1998. No Centro Cultural São Paulo, ele divide o palco, a partir de hoje, com João Carlos Andreazza, sob direção de Georgette Fadel, atriz da Cia. do Latão. Aliás, da Cia dirigida por Sérgio Carvalho saiu grande parte dos dez integrantes da equipe técnica de Cabras, entre eles Márcio Medina, responsável por cenários e figurinos.

Cabra é o único do três espetáculos cujo texto escapa do confessional. A linguagem é épica no sentido brechtiano do termo, ou seja, o objetivo é fazer uma bem-humorada reflexão sobre a Guerra de Canudos, que envolveu 11 mil soldados e destruiu por completo a cidade liderada por Antônio Conselheiro, que chegou a ter 25 mil habitantes.

Corte - Damigo tomou como ponto de partida a história fictícia de dois atores da corte do rei de Portugal que teriam sido deixados no Brasil após a proclamação da República. Desempregados e atordoados, ouvem falar no "reduto monarquista" de Canudos e partem para lá em busca de uma "corrente" para representar.

"Ao chegar lá só encontram miséria e fanatismo, porém não têm mais como voltar", diz Damigo. Eles eram atores cuja função era divertir os integrantes da corte e é só o que sabem fazer. "A experiência acaba dando outra dimensão a sua arte e, de certa forma, eles se transformam como artistas". Tendo como única bagagem um baú, eles preparam uma peça para contar a verdadeira história de Canudos.

Numa linha diferente, em Só in Cena Bianca utiliza recursos como projeção de fotografias numa linguagem que remete aos vídeoclipes. Seu texto fala das angústias e dos conflitos de jovens urbanos, como a busca do primeiro emprego e o estresse causado pela velocidade e variedade das informações captadas e não digeridas.

Elogiada por seu talento de atriz, Grace resolveu arriscar-se também na dramaturgia com Paraíso. Na chave do humor, ela coloca em cena uma mulher comum, contemporânea, que faz um balanço do seu dia-a-dia.


Beth Néspoli